quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Reflexões e Poema " A Sobrevivência do Sentimento"

Estive ontem a pensar com os meus botões sobre um dos aspectos mais importantes da Poesia, a transmissão Poeta-Leitor. Um poeta, inspirado por um sentimento, escreve um poema em que traduz esse sentimento em palavras. Essas palavras tentam partilhar o pensamento do poeta, não directamente, mas através de uma construção artística.



Após a escrita e divulgação do poema, este chega ao leitor. Este tenta então entender o sentimento do poeta, ao tentar decifrar e ver para além dos recursos estilísticos/artísticos usados pelo Poeta. No entanto, nessas situações todos nós recorremos à nossa experiência, à nossa visão das coisas, que são únicas, nossas. E necessariamente, diferentes do Poeta que sentiu o sentimento original. Por isso, no fundo, o Poeta pode escrever sobre algo que o Leitor vai entender de maneira diferente. Deste modo, talvez não seja correcto dizer que há uma transmissão Poeta-Leitor, mas sim um processo de transmutação de sentido entre o Poeta e o Leitor.

Que acham?

Em resultado desta reflexão, escrevi um poema que quero partilhar com vocês:

Tenho um pensamento
Gerado por um sentimento
Quero-o divulgado
Através da Poesia partilhado.

Idealizo uma bela roupagem
Defino o vestuário
Embelezo o pensamento
Está pronto para partir.

A entidade receptora
Desnuda o pensamento.
Com os olhos da Alma
Tenta perceber o sentimento.

As Almas veem todas diferentes
Por isso me pergunto:
"Quanto terá sobrevivido
Do meu Sentimento?"


Sempre vosso,
Luís.

9 comentários:

  1. Concordo plenamente com você Luís. O que na maioria dos casos acontecem é isto mesmo. Mas acho que depende do estado de espírito do leitor ao ler determinada obra. Aquele que degusta cada palavra, destrinça cada estrofe...tem mais condições de assimilar a idéia transmitida pelo autor. Tem obras que leio várias vezes e a cada momento vou percebendo novas sutilezas ! Parabéns pelo poema e pela reflexão ! Um forte abraço !

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    1. Sim, dependerá sempre do estado de espírito e da situação.

      Por acaso, este foi um tema que sempre me passou pela cabeça. Quando era mais novo, e tinha aulas de Português e o professor nos dizia com todas as certezas o que determinado texto/poema queria dizer pensava sempre para comigo:

      "Mas como raio é que têm tantas certezas que o autor queria dizer isto? Alguém lhe perguntou, ele falou? Ou estamos para aqui a aprender coisas que o autor nunca pensou?"

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  2. Pablo Neruda dizia que a poesia não pertence ao autor mas sim a quem precisa dela. Eu acredito nisto, tem horas em que uma poesia me abastece num exato momento que aquelas palavras foram ao encontro do que se passava dentro de mim. Eu, busco escrever com simplicidade,direto da veia, deixo as palavras elaboradas de escanteio e para terminar, Clarice Lispector nos diz: "engana-se quem pensa que escrever com simplicidade não é um trabalho árduo". Muito válida tua reflexão Luis, eu penso quenão dá para saber o que restou, ao leitor, da idéia original do autor. Nos comentários, percebo coisas que nem havia me dado conta de ter escrito. Belas surpresas.

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    1. Um grande dito de Neruda. E sim, acaba por ser verdade, não só para a poesia, mas para todo o tipo de arte. A partir do momento que partilhamos algo que fizemos, estamos a partilhar tudo, até o significado.

      Sim, é muito interessante as pessoas verem algo no teu trabalho que tu nunca tinhas pensado que lá estava.

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  3. Escrevo e não desejo
    Convencer ninguém de nada
    não ‘VENDO” verdade alguma
    Desejo apenas fazer-me
    Não se perde de mim
    De uma maneira ou de outra
    De uma maneira pessoal
    Que aprendi decodificar a vida.

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  4. Escrevo e não desejo
    Convencer ninguém de nada
    não ‘VENDO” verdade alguma
    Desejo apenas fazer-me
    Não se perde de mim
    De uma maneira ou de outra
    De uma maneira pessoal
    Que aprendi decodificar a vida.

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  5. Luis meu amigo, bela reflexão sobre a poesia. A pretensão de todo poeta, é ser um jornalista da alma humana. O poeta escreve com o coração, gosta de enfeitar cada verso, com situações oníricas, ou então, de arrancar suspiros e talvez experiencia de vida com o leitor. Você é bom nisso, assim como o nosso amigo Sandro, e muito outros que leio. Mais uma vez, parabéns !

    http://gagopoetico.blogspot.com.br/

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    1. Muito obrigado, é sempre muito bom ouvir a tua opinião. :)

      Sim, todos os poetas querem ser esses jornalistas. No entanto, acho que os leitores também gostam de ser jornalistas, ao dar o significado que eles querem transmitir aos poemas que lêem.

      Abraço!

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