sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Ler Poesia para melhorar a própria escrita será assim tão beneficial?

Tal como muito boa gente, acredito eu, quando me comecei a interessar e a ter gosto por escrever poesia, fui pesquisando na Internet dicas e conselhos para melhorar a qualidade das minhas obras.

Ora, um dos conselhos que mais vi frisado foi que para se melhorar poeticamente, tem que se ler boa poesia, bastante poesia. Acaba por um conselho normal e expectável. Umas das maneiras de se melhorar num determinado aspecto da nossa vida, para além da prática, é seguir bons exemplos/aprender com os mestres. No caso da poesia, a não ser que se conheça um mestre pessoalmente, aprender com os melhores é ler a obra das mais variadas estrelas desta arte.

No entanto, será que para melhorar a nossa escrita de poesia, precisamos assim tanto de inserir mais boa poesia na nossa dieta literária? Tentar melhorar, tendo como base os grandes poetas, não poderá ser até contraproducente na produção de uma visão poética pessoal e original?



Claro que se gosta de escrever poesia, também haverá uma parte de nós que gosta de a ler. Ainda mais quando se começa a divulgar a sua própria poesia, e se começa a inserir em comunidades de companheiros poetas. No entanto, ao usarmos a poesia de outras pessoas como base de como a boa poesia deve ser, não ficaremos contaminados com as visões destas pessoas, com as suas maneiras de escrever, com as imagens que associamos à sua escrita?

Falando de mim, nunca fui grande consumidor de poesia. Gosto de ler, mas honestamente não é algo que esteja muito presente na minha colecção de livros. Gosto muito é de escrever, de com as letras conseguir definir e transmitir pensamentos, medos e sentimentos. Cada vez gosto mais de escrever, e tenho gostado bastante de ler as poesias de outros autores tão anónimos como eu. No entanto, não sinto que preciso de ler mais poesia para melhorar/escrever bons poemas.

Mais ainda, ao não ler a dita poesia dos mestres acabo por escrever poemas que podem não ser tão belos como seriam se me cultivasse mais poeticamente, mas para mim são mais puros e verdadeiros. Ao não ter grandes bases de poesia, quando fico inspirado por algo ao escrever tudo o que sai são palavras, ideias, sentimentos e associações minhas. Tenho a certeza que se tivesse a começar a ler mais poesia do que o habitual, a esta altura quando convocasse as letras elas já viriam contaminadas com a "voz" de outros poetas. Assim posso dizer que a poesia que escrevo vem de mim, e mim apenas.

Claro que não digno para não se ler nada. Eu leio, e leio bastante. Simplesmente não é poesia. E não busco inspiração só em mim, busco no que vejo, no que leio e ouço. E tento sempre estar receptível a inspirações vindas de todo o lado.

Agora, sei que se fizesse um grande estudo de poesia, quando escrevesse sobre o que me inspirou não falaria só com a minha voz mas inconscientemente com a voz de outros. E para mim, a magia da poesia é conseguir derramar a essência da nossa alma num conjunto de versos.

Acabo esta reflexão, perguntando-vos o que acham sobre este tema?


Sempre vosso,
Luís.

14 comentários:

  1. Ler poesia melhora sim nossa escrita, mas não a altera nem influencia. Se fosse assim eu já estaria escrevendo como Quintana, Cecília e Jorge de Lima... E, cá entre nós, quem me dera! Acho que um poeta deve sim ler muita poesia, tanto para valorizar o consumo da literatura que nós mesmos pretendemos lida, quanto para manter vivo o trabalho de nossos grandes autores poéticos e estimular o trabalho dos novos poetas!

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    1. Não concordo que ler poesia não a altera nem influencia a nossa própria escrita. Isso só aconteceria se só lhe passássemos os olhos, em vez de a ler.

      Tudo nos afecta, tudo nos influencia. Nem que seja só uma migalha de influência a um nível muito subconsciente, mas tudo com que nos deparamos nos modela e altera.

      E acho que estás a confundir ser influenciado por alguém, acabando por ser uma espécie de repetição, com ser influenciado e ficar com o talento deles.

      Se ao leres Quintana conseguires escrever o que te vai na alma, com a sua categoria muito bem. Acho pior é se ao se tentar ao valorizar assim tanto outros artistas como mestres, que se acabe por ser um poeta repetição desses autores.

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  2. Eu acho que os poetas são como fotógrafos de um mesmo modelo, porém em ângulos diferentes. Ao ler um outro autor automaticamente me maravilho ao me deparar em determinado ângulo que o mesmo captou, o que me faz por vez buscar outros ângulos também.Eu particularmente adoro ler e leio todas poesias possíveis ( poesia é uma obra pequena de se ler mas algumas tem conteúdo de um livro ) porque vejo os infinitos ângulos possíveis de um mesmo tema. Tem certas fotografias que são tão lindas que você sente que estava presente mas não bateu a fotografia. Não tenho lido Mário, mas o Luís deste blog não perde nada para Camões... abraços !

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    2. Adorei essa comparação entre poetas e fotógrafos, algo que me diz muito já que os meus hobbies são precisamente a poesia e a fotografia. Muito bom mesmo!

      Eu não sou contra ler poesia e não discuto a sua capacidade de nos modelar e influenciar. Apenas acho que numa fase inicial o poeta deve estar mais preocupado em encontrar a sua própria voz, e escrever, do que estar a estudar outras vozes. Após obter uma personalidade poética mais forte, é que acho que deva procurar melhorar o estilo com outros poetas.

      Acho que primeiro se deve descobrir o nosso estilo, único e original. Depois é que vem o tempo de o melhorar. Agora começar por nos enchermos de estilos de outros poetas, sem uma personalidade poética definida, pode resultar apenas num estilo que é apenas uma colagem de vozes já existentes.

      Essa comparação com Camões muito me honra. Um forte abraço, amigo Sandro!

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  3. "E para mim, a magia da poesia é conseguir derramar a essência da nossa alma num conjunto de versos." Eu te digo,leio muito,porque gosto,isso é fato e não poderia ser diferente.Mas não tenho ninguém como ídolo,por mais interessante e famoso que o autor possa ser,ele não me influencia em nada,a minha influência vem do meu sentimento.
    Escrevo e pronto,e se fica bom ou não pouco importa,não corro atrás de aprovação,detesto regras,se eu gosto,está bom e tem Magia,como a sua frase já diz.-Um abraço,e fica com Deus.

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  4. A poesia vai muito além de uma influência, é a expressão da alma, que obedece suas próprias regras.
    Abraços!

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  6. Um ótimo assunto.
    Luis, como eu já te falei anteriormente, sempre fui tímido em mostrar as minhas poesias para as pessoas. Pensava que podiam achar engraçado demais ou algo parecido. Gosto de ler, mas não adepto a nenhum autor especifico. A poesia em mim, transborda como uma mina d´água. São situações do meu dia a dia, uma lembrança, e principalmente as reclamações amorosas, que me fazem criar meus versos. Você é fantástico em suas obras amigo. Como disse o Sandro acima, um Camões.

    Abraços,

    http://gagopoetico.blogspot.com.br/

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    1. Obrigado por apoiares a comparação feita pelo Sandro, que muito me honra, já que Camões é uns dos Verdadeiramente Grandes da literatura portuguesa ;)

      Abraço

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  7. Eu simplesmente amo ler poesias! Minha alma poética foi “despertada” por diversos poetas que eu lia, compulsivamente, ainda no início da minha adolescência. Se isto me influenciou? Depende de qual o tipo de influência. Até por que, penso ter uma forma peculiar de escrever. Não obedeço a regras de retórica. Apesar de, egolátricamente, dizer que sou poetisa, não sei se chego a tanto. Há apenas alguns meses passei a mostrar meus escritos ao público em geral. Não tinha a devida segurança para tanto. Alguns amigos me incentivaram muito, daí, resolvi mostrar a minha cara. Leio poesias pelo simples prazer de ler poesias. Eu não conseguiria viver sem isto. E não é exagero. Extasio-me com as nuances poéticas, com a criatividade impar, com o jogo das figuras de retórica, com o verbo, o substantivo... as palavras. Palavras me encantam, me seduzem! Palavras sonoramente encaixadas em um poema, levam-me ao êxtase! As vezes, uma única palavra que encontro em um dado poema, inspira-me a criar. Sinceramente, não vejo isto como um problema que iniba ou influencie a minha própria inspiração. Não vejo desta forma. Além do mais, ficar sem o encantamento que os poetas me proporcionam através das suas criações, seria deveras doloroso para mim. Eu simplesmente não conseguiria.

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  8. Um tema pertinente num espaço que se trata de poesia e de estilos bem diferentes. Aqui encontrei pessoas fascinantes e criativas ao máximo, ver poesia nas mais inusitadas situações.
    Meu contato com poemas e autores clássicos da literatura se deu de duas maneiras: os livros didáticos que recebi na escola e uma Antologia da Literatura Mundial que ganhei, já velhinha, mas me ajudou e muito a conhecer grandes nomes e estilos. Quanto ao meu fazer poético veio livremente, aos 22/23 anos comecei a escrever timidamente num caderno, sem mostrar pra ninguém. Este caderno ficou guardado e há quase três meses comecei escrever e a reeditar alguns dos meus textos e poemas aqui no meu humilde cantinho dentro desta maravilhosa blogosfera.

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